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Retratos Fantasmas é o novo filme de Kléber Mendonça Filho (“Bacurau”, “Aquarius” e “Som ao Redor”). Fruto de sete anos de trabalho e pesquisa, filmagens e montagem, o filme traz o espaço histórico e humano como o personagem principal, revisitando-o através dos grandes cinemas que serviram como espaços de convívio durante o século XX. Como em tantas outras cidades do mundo ao longo do século XX, milhões de pessoas foram ao cinema no centro do Recife. Com a passagem do tempo, as ruínas dessas grandes salas revelam algumas verdades sobre a vida em sociedade. Composto em grande parte por material de arquivo, usa fotografias e imagens em movimento encontradas em acervos pessoais. Estreado no Festival de Cannes, em 2023.
Retratos Fantasmas. Todo o mundo é composto de mudança Jorge Mourinha, Publico de 23 de Agosto de 2023 Um documentário que fala da vida, da nossa vida, por um ponto de vista de cinema — porque as nossas vidas também podem dar um filme.
Que Kleber Mendonça Filho era um cineasta cinéfilo já o sabíamos — logo desde a primeira longa-metragem que assinou, o documentário de 2008, Crítico, uma montagem de conversas com críticos de cinema e realizadores que já mostrava um desejo de pensar o cinema, com paixão, com humor e sem pretensiosismos. Retratos Fantasmas, de certo modo, “fecha” um ciclo iniciado por esse filme, que o viu tornar-se “ponta-de-lança” de um novo cinema brasileiro que, durante os 20 últimos anos, tem sido uma das cinematografias mais vivas e activas do panorama global. E que é balizado pelo apartamento onde o realizador morou durante a maior parte da sua vida, que foi cenário de rodagem de muitas das suas primeiras curtas e da sua primeira ficção longa, O Som ao Redor, e do qual saiu há alguns meses.
A mudança de casa costuma ser um momento ideal para fazer um ponto da situação, inevitavelmente, e é essa ideia de mudança que norteia toda a estrutura de Retratos Fantasmas, embora o filme estivesse já em montagem antes da mudança. É uma pausa para respirar e reflectir sobre tudo o que mudou desde que Kleber Mendonça Filho se deixou seduzir pelo cinema; um filme “assombrado” por locais desaparecidos, que contêm múltiplas vidas e são hoje espaços vazios ou perderam as marcas do que já foram, que demonstra de modo prático como os tempos, os gostos, as cidades, o cinema, as pessoas mudam — e como todas essas mudanças são também elas transitórias, passageiras, interlúdios entre outras mudanças.
Sem nostalgias serôdias, mas com muito afecto, Kleber Mendonça Filho deixa-se levar ao sabor das imagens que vai encontrando: os seus próprios arquivos preservados e redescobertos, fotos de família com fachadas de cinema por trás, imagens de actualidades ou imprensa. O mosaico que sai dessa navegação só na aparência é descontraído; é, na verdade, extremamente articulado, minuciosamente trabalhado, com a sua abordagem na primeira pessoa a reflectir uma vida moldada pelo cinema, a construir um encontro entre a “grande história” e a “pequena história”, o público e o privado, o político e o pessoal, em que todos nós nos podemos rever – porque o desaparecimento das salas de rua não é um exclusivo do Recife, porque mesmo aqueles de nós que não foram cinéfilos mudaram de casa, porque todas as nossas vidas estão inevitavelmente ligadas às mudanças e às cidades que nos rodeiam.
Retratos Fantasmas é uma prova do poder das imagens para dar sentido (e fazer sentido) das nossas vidas; é um filme que, partindo do cinema, nos leva a entender e aceitar o passado, a aprender a viver com os fantasmas, nossos e da(s) cidade(s), que continuam por aí a assombrar- nos.