CINECLUBE DE JOANE

Janeiro 2019
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Michael Moore
3 JAN 21h45
de Jean-Claude Brisseau
10 JAN 21h45
de Hirokazu Kore-eda
17 JAN 21h45
de Serguei Eisenstein
24 JAN 21h45
de Matteo Garrone
31 JAN 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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31 21h45

DOGMAN Matteo Garrone

Num subúrbio de uma periferia suspensa entre a metrópole e o deserto, onde a única lei parece ser a do mais forte, Marcello é um homem pequeno e gentil que divide os seus dias entre o trabalho no seu modesto salão de beleza para cães, o amor por sua filha Sofia, e uma relação ambígua de submissão com Simoncino, um ex-boxeur que aterroriza todo o bairro. Farto de ser humilhado, e determinado a reafirmar a sua dignidade, Marcello idealiza uma inesperada e feroz vingança. Do realizador de Reality e Gomorra, Dogman conquistou o Prémio de Melhor actor no Festival de Cannes.

Título Original: Dogman (Itália, 2018, 100 min)
Realização: Matteo Garrone
Interpretação: Marcello Fonte Edoardo Pesce, Alida Baldari Calabria
Produção: Matteo Garrone, Jeremy Thomas, Jean Labadie, Paolo Del Brocco
Argumento: Ugo Chiti, Matteo Garrone, Massimo Gaudioso
Musica: Michele Braga
Fotografia: Nicolaj Brüel
Montagem: Marco Spoletini
Distribuição: Midas Filmes
Estreia: 27 de Dezembro de 2018
Classificação: M/12
Palme Dog – Festival de Cannes, Vasco Câmara Publico de 17 de Maio de 2018

Há cães ferozes e jaulas, pressente-se que os humanos poderão ser engaiolados em Dogman. Filme brutal, Matteo Garrone arranca esta história de fascínio e medo entre um “monstro” e a sua “vítima”, com paisagem de western apocalíptico em fundo, ao mecanismo da brutalidade.
Nesta busca, que se aproxima do final, para encontrar o grande filme da competição da 71.a edição de Cannes, talvez seja preciso encore un effort. Ou talvez isso já não adiante, contentemo- nos com o que Jia Zhang-ke ou Alice Rohrwacher ou Hirokazu Kore-eda mantiveram em lume brando, uma delicadeza em que se acenderam fulgores. Numa edição em que um francês e um suíço, Stéphane Brizé e Jean-Luc Godard, incendiaram e incendiaram-se – são títulos que não têm nada em comum, En Guerre e Le Livre d’Image, a não ser o facto de terem calculado o fogo de artifício.
Os cães ladram e a caravana passa e acaba de passar Dogman, de Matteo Garrone, duas vezes Grand Prix em Cannes (2009, Gomorra; 2012, Reality). Quem sabe se não haverá uma terceira, ou mesmo a Palma, d’Or ou Dog. É que uma das notáveis coisas deste filme brutal é Garrone prolongar-lhe a vida arrancando-o ao mecanismo da brutalidade. Há cães ferozes e jaulas, pressente-se que os humanos poderão ser engaiolados, tipificados, mas todo o trabalho, e a conquista do filme, é resgatar a humanidade de uma história de “monstros” e “vítimas” em paisagem de western apocalíptico (Villaggio Coppola, o Monument Valley de Garrone, onde filmara já Gomorra), fazendo do fascínio e medo entre “monstro” e “vítima” um bailado complexo, espesso.
Se no horizonte está sempre a possibilidade de a vítima se tornar monstro, até porque era esse o fait divers sanguinolento de que Garrone e os argumentistas partiram, uma história horrível de vingança, e se os exemplos cinematográficos, de Un borghese piccolo piccolo (Mario Monicelli, 1967) ao Cães de Palha (1971), de Sam Peckinpah, indicavam a Garrone o caminho a seguir, os três anos que o realizador e os argumentistas levaram até à versão final foi o tempo necessário para resistirem à tipificação.
Entretanto Garrone enfeitiçara-se por Marcello Fonte, o seu actor, que interpreta um tratador de cães abusado por um bully cocainómano, refém do medo dele e do fascínio por ele, e não menos menosprezado pelo resto da comunidade, que são os cobardes de uma cidade de cowboys. O “dogman” acaba por ser uma personagem típica da comédia italiana, a do tipo que se faz à vida, disposto a todos os compromissos para se desenrascar – logo, os argumentistas assumem que, sendo o cinema uma realidade porosa, a sociedade italiana está de facto ali.
Mas é como se Alberto Sordi encontrasse a poesia lunar de Buster Keaton, o ídolo de Garrone que o cineasta disse ter reencontrado materializado em Marcello Fonte – a costela burlesca já era um dado anterior, uma das versões iniciais do argumento chegou a ser proposta a Roberto Benigni. É como se Garrone ganhasse uma luta, nada fácil à partida, a de evitar que a deformação, a distorção, a pintura expressionista a partir do cinema e da realidade italianas, que são o seu traço, não fossem um atentado à humanidade das personagens.