CINECLUBE DE JOANE

Setembro 2025
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Guan Hu
4 SET 21h45
de Christophe Honoré
11 SET 21h45
de Andrea Arnold
18 SET 21h45
de António Reis e Margarida Cordeiro
25 SET 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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18 21h45

BIRD Andrea Arnold

Mistura de fantasia e realismo social, este drama acompanha Bailey, uma rapariga de 12 anos que vive com o irmão, Hunter, e o pai, Bug, nos subúrbios de Kent (Inglaterra). Com dificuldades em lidar com a ausência da mãe e sem o apoio do progenitor –um homem ausente e demasiado focado em si mesmo –, Bailey encontra conforto numa amizade inesperada com Bird, uma figura que se tornará uma referência na sua vida. Com as actuações de Nykiya Adams, Barry Keoghan, Jason Buda e Franz Rogowski, este filme esteve em competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes e tem a assinatura de Andrea Arnold (“Aquário”, “O Monte dos Vendavais”, “American Honey”).

Título Original: Bird (Grã-Bretanha/França/Alemanha/EUA, 2024, 115 min)
Realização e Argumento: Andrea Arnold
Interpretação: Nykiya Adams, Barry Keoghan, Franz Rogowski, Jason Buda, Frankie Box
Produção: Lee Groombridge, Juliette Howell, Tessa Ross
Fotografia: Robbie Ryan
Montagem: Joe Bini
Distribuição: NOS Audiovisuais
Estreia: 8 de Maio de 2025
Classificação: M/14
Disponível para amar: Bird é um filme notável de Andrea Arnold por Jorge Mourinha, Publico Andrea Arnold, uma das grandes cineastas britânicas, fez um filme sobre a possibilidade de reconstruir uma vida, uma família, um futuro, que mereceria um lançamento mais condigno com a sua excelência.
Andrea Arnold tem tido azar com a sua distribuição em Portugal, com os seus filmes a chegarem desamparados e a desaparecerem despercebidos. Senhora de um cinema táctil e epidérmico construído em forte colaboração com o director de fotografia Robbie Ryan, a ela se deve uma das melhores versões do Monte dos Vendavais de Emily Brontë de que nos recordamos, mas também o épico American Honey. Isto vem a propósito de Bird, longa-metragem que a realizadora e argumentista inglesa estreou em Cannes de 2024 e que nos chega com um ano de atraso, despejado por um distribuidor que já provou repetidamente não ter sensibilidade para o cinema de autor.
Basta, aliás, ver os planos de abertura, com a câmara a acompanhar de muito perto uma scooter eléctrica que percorre velozmente as ruas de Gravesend, para perceber que não estamos no terreno batido do “realismo social” prescritivo. Arnold é uma cineasta das margens, dos esquecidos, das famílias de ocasião, mas os seus filmes não se comprazem no miserabilismo nem na denúncia, recusam as histórias edificantes. Não se espere dela Ken Loach (apesar de Bird fazer pensar a espaços em Kes) nem irmãos Dardenne — felizmente, porque por muito que fale do lumpemproletariado está mais interessada em seguir pessoas do que arquétipos.
Bailey (uma magnética Nykiya Adams) é um bom exemplo disso: uma rapariga em permanente “entre”, filha de pai branco (ele próprio mal saído da adolescência) e mãe negra que não lhe ligam muito, menina ainda não mulher mas já “alma velha” que sobrevive pelos descampados e prédios abandonados em ocupação selvagem, que se faz diariamente à vida com uma determinação que não esconde nem lamenta.
Fascinada pela liberdade dos pássaros que percorrem os céus, usando o seu telemóvel para registar pequenos momentos de beleza, Bailey cruza-se um dia com um forasteiro que se apresenta como Bird (Franz Rogowski numa performance maleável, misteriosa) e que está à procura da família perdida. Sob o céu plúmbeo de uma Inglaterra desintegrada e de uma Europa em chamas cujo futuro é cada vez mais precário (à imagem das suas próprias vidas), a raiva incontida de Bailey e a doçura desarmante de Bird fazem faísca, tornam-se farol de um outro caminho que passa por abraçar a família em vez de a rejeitar, uma possibilidade de abertura ao outro que permita reconstruir um centro e fugir à entropia.
É, aliás, esse o Universal que, sem cinismos, serve de mote recorrente a Bird através da canção homónima dos Blur: “it really, really, really could happen”, “pode bem acontecer”. O que permite a Andrea Arnold dirigir o seu filme para caminhos inesperados que, noutras mãos menos sensíveis, poderiam levar ao desastre. Mas que aqui, com o enlevo da câmara, com a vibração permanente do ritmo, traduzem com grande inteligência os sentimentos exacerbados, larger than life, da passagem da adolescência à idade adulta, verdadeiro tema deste filme duro, mas nunca cruel. Bird é uma obra disponível para amar e ser amada. Assim o espectador a saiba receber.