As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.
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Uma comédia dramática que acompanha um Verão da vida de Chiara, filha do lendário actor
italiano Marcello Mastroianni e da francesa Catherine Deneuve, uma das maiores estrelas da sua
geração. Depois de uma espécie de crise existencial que a desorienta, Chiara começa a adoptar
os gestos, a voz e o estilo do pai. A forma como o encarna é tão convincente que todos passam a
tratá-la por Marcello. Com a “persona” dele entranhada em si, e com a mãe, o marido e os amigos
próximos a acompanhá-la, ela embarca numa reflexão íntima sobre identidade e o peso do legado
familiar. Este filme conta com a participação de Melvil Poupaud, Nicole Garcia, Stefania Sandrelli,
Fabrice Luchini e também do cantor e compositor Benjamin Biolay, que foi casado com Chiara.
Interpretando-se a si mesmos, os actores dão vida a este projecto assinado por Christophe
Honoré.
Na abertura da sessão, no âmbito da rede shortcutz, será exibida a
curta-metragem Rinha (2023, 22 min) de Rita M. Pestana: Cássia
vive com o seu pai alcoólico e com os seus galos de briga. O seu dia a dia
obedece a uma lógica de preocupação e melancolia. Entre conduzir o táxi do
pai, pelas ruas de Belo Horizonte, e cuidar do seu galo de briga, Cássia
caminha para o limiar entre permanecer nesta rotina ou descobrir o que será
a sua vida sem as responsabilidades que lhe foram incumbidas e a fazem
perder de si própria. Assim, apesar da dificuldade da despedida e do amor
pelo pai, Cássia tentará libertar-se do que seria a permanência numa vida
condenada a uma espiral de pesar e carrego.
Marcello Mio por Inês Lourenço, Metrópolis Como celebrar o centenário de uma lenda sem parecer que se está, precisamente, a celebrar o centenário de uma lenda? Ou: como trazer à matéria desengraçada dos nossos dias a memória de alguém que habita o imaginário dos espectadores “antigos”? Marcello Mio, de Christophe Honoré, é uma eloquente resposta a ambas as perguntas. O tipo de filme que planta referências sem se deixar asfixiar por elas, e que não se esgota num virtuoso exercício de cinefilia, antes procurando aquela liberdade sem nome que não nos deixa adivinhar o passo seguinte, apesar da fidelidade à figura recordada.
Dito isto, é preciso conhecer Noites Brancas (1957), de Luchino Visconti, e A Doce Vida (1960), Oito e Meio (1963) ou Ginger e Fred (1986), de Federico Fellini, para desfrutar de Marcello Mio? Digamos que dominar a anatomia destes filmes não é obrigatório, mas como em qualquer deambulação cinéfila, o prazer do espectador aumenta conforme este segue as pistas de um mapa emocional. No caso, um mapa explorado pela filha de Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve: Chiara Mastroianni. Ela que, numa espécie de ensaio identitário e busca interior, começa a vestir-se como certas personagens emblemáticas do pai – isto combinado com o cigarro na boca, permanentemente aceso, e a insistência em falar italiano –, enquanto os outros à sua volta se vergam à evidência de que Chiara… “é” Marcello.
Em Cannes, onde o filme teve a sua estreia há um ano, houve quem lhe chamasse, de forma pejorativa, “cine-narcisismo”. Mas o que tem de danoso uma atriz, impressionantemente parecida com o pai, usar essa semelhança e (dupla) filiação para navegar o cinema que lhe está no ADN? Mais: se há alguém com propriedade para fazê-lo é, de facto, Chiara. Sem abuso de maneirismos, e com dois brilhantes companheiros de tela – a mãe Deneuve e o sempre delicioso Fabrice Luchini –, ela não deixa de ser um corpo com a angústia do presente, vivendo-a com um genuíno amor de cinema. Que é também, ou sobretudo, um amor familiar, esse privilégio indizível.
Há, por tudo isto, um fulgor comovente em Marcello Mio, que não passa pelo jogo básico da imitação ou pela abordagem arrumadinha das recordações. Pelo contrário, a Honoré interessou a “desorientação” da felicidade, uma maneira de evocar, através da vertigem afetiva e da semelhança física, um ator digno da palavra “devaneio”. É o que aqui acontece: sem saber para onde vamos, seguimos o reencontro de Chiara com a memória íntima de alguém que faz parte da grande memória coletiva do Cinema.