CINECLUBE DE JOANE

Janeiro 2023
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Clara Roquet
5 JAN 21h45
de João Pedro Rodrigues
12 JAN 21h45
de David Cronenberg
19 JAN 21h45
de Rainer Werner Fassbinder
26 JAN 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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5 21h45

LIBERTAD Clara Roquet

Uma família chega à sua casa de Verão na costa da Catalunha (Espanha) para passar as férias com a matriarca, diagnosticada com Alzheimer. É assim que Nora, de 15 anos, conhece Libertad, uma rapariga rebelde que é filha de Rosana, a empregada colombiana da avó. As duas tornam- se muito próximas, com Nora a descobrir dentro de si uma insubmissão que desconhecia, num Verão que deixará marcas para sempre. Um filme que retrata a adolescência, a velhice e também as diferenças entre classes sociais que conta com a assinatura de Clara Roquet. As actrizes Maria Morera Colomer e Nicolle García assumem os papéis principais; Nora Navas, Carol Hurtado e Vicky Peña os papéis secundários.

Titulo original: Libertad (Espanha/Bélgica, 2021, 100 min)
Realização e Argumento: Clara Roquet
Interpretação: Carol Hurtado, Nora Navas, Maria Morera, Nicolle García
Fotografia: Gris Jordana
Montagem: Ana Pfaff
Produção: Tono Folguera, Maria Zamora, Sergi Moreno, Stefan Schmitz
Distribuição: Leopardo Filmes
Estreia: 25 de Agosto de 2022
Classificação: M/12
A libertad está a passar por aqui Depois de Raparigas, de Pilar Palomero, e de Alcarràs, de Carla Simón, o espectador português pode começar a fazer uma ideia de um novo caminho que o cinema espanhol está a tomar. Jorge Mourinha, Publico de 25 de Agosto de 2022 Ainda há poucas semanas vimos Alcarràs, de Carla Simón, de quem o anterior Verão 1993 já tinha encontrado o caminho das salas. Há um ano, tinha sido a vez de Raparigas, de Pilar Palomero. Chega-nos agora Libertad, de Clara Roquet. E o espectador português (ou, pelo menos, o espectador português que se interessa) pode começar a fazer uma ideia de um novo caminho que o cinema espanhol está a tomar.
Não se trata de “inventar” uma “nova vaga”, sim de reconhecer a existência de um “núcleo” de mulheres realizadoras oriundas da Catalunha do qual, aliás, Carla Simón nos falou (já em off) na entrevista que deu ao Ípsilon - uma “família” de cumplicidades e amizades. Libertad, aliás, partilha com Alcarràs a produtora María Zamora e a montadora Ana Pfaff.
E estes filmes têm algo mais em comum: a presença da infância, e um olhar sobre a aprendizagem do crescer. Um olhar que o cinema espanhol sempre soube trabalhar (muitas vezes paredes meias com o fantástico – pensamos, sim, em Victor Erice e O Espírito da Colmeia ou Carlos Saura e Cria Corvos), mas que é agora filmado no feminino.
Esse olhar é uma das coisas que faz a diferença desta geração, mas é mais que evidente para quem estiver atento que Palomero, Simón e Roquet não estão a fazer “variações” sobre o mesmo tema.
No caso de Libertad, o título só por si é todo um programa: “liberdade” é o nome próprio de uma das personagens, Roquet não fala de outra coisa senão da liberdade de escolha e das consequências que ela implica.
Libertad é a filha da empregada da casa de Verão de uma família burguesa, onde mora a matriarca com Alzheimer, e acaba de chegar da Colômbia para passar o Verão com a mãe que a abandonou menina para vir trabalhar para Espanha. Libertad é um símbolo de liberdade – no modo como se veste, como dança, como flirta, como se comporta, como vive o seu corpo. E esse símbolo atrai Nora, a mais velha das adolescentes da família, que está naquele momento de transição em que já não é menina e ainda não é mulher.
Nora quer ser “como” Libertad, quer a liberdade que as convenções sociais da sua família burguesa cerceiam. Mas essa liberdade reenvia sempre para a questão do privilégio social, da diferença de estatuto entre as “senhoras” e as “criadas” (e são, literalmente, as mulheres que “mandam” neste filme onde os homens estão ausentes mesmo quando presentes), que remete para um Que Horas Ela Volta? de Anna Muylaert ou para muito cinema britânico. Nenhuma das duas miúdas tem realmente noção do alcance das convenções que estão a confrontar, mesmo que Libertad sinta que o dinheiro é a maior delas todas.
Ora, Roquet não está interessada em fazer um problem picture social tradicional, mesmo que a questão social seja central ao seu drama. Libertad funciona a múltiplos níveis. Por um lado, é uma crónica de Verão em família, provavelmente o último, com as suas tensões surdas e não-ditos, com a disfuncionalidade de todas as famílias que não sabem como lidar com os seus problemas. Por outro, é um retrato da adolescência em toda a sua inocência e crueldade, no seu testar das fronteiras do comportamento permitido, sobretudo na sua incapacidade de compreender quão longe é demasiado longe. E, por outro ainda, é um adeus doce-amargo à inocência, ao casulo protector de uma família que a partir de dado momento já não nos pode proteger do mundo lá fora.
Clara Roquet filma as suas raparigas com a ternura de quem sabe que elas ainda têm muito de meninas e a amargura de saber que essa inocência está mesmo à beirinha de desaparecer, mas sempre explorando o que há de sincero e de intenso nesses sentimentos. Tal como Pilar Palomero e Carla Simón, Roquet não precisa de ir à procura do que nunca foi feito em cinema; basta-lhe saber o que quer contar, e como. E fá-lo muito bem.