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12 ANOS ESCRAVO de Steve McQueen

Sinopse

EUA, 1841. Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro livre, vive em Nova Iorque com a mulher e as duas filhas. Leva uma existência tranquila, entre os dotes de carpinteiro e o talento para tocar violino. Atraído pela ideia de uma vida melhor, aceita o convite de dois homens para entrar numa digressão. Porém, a glória e o lucro prometidos transformam-se num pesadelo quando, após uma noite de copos, ele acorda acorrentado. A partir desse momento, torna-se escravo. Agora é tratado por Platt, nome que lhe dão para esconder a sua condição de homem livre, e é violentamente forçado a omitir a sua identidade. É comprado pelo dono de uma plantação no Louisiana, onde passará 12 anos até ser finalmente libertado.

Um filme dramático realizado por Steve McQueen ("Vergonha", "Fome"), que procurou aprofundar a história da escravatura nos EUA e abordá-la segundo uma perspectiva mais realista, a partir de factos verídicos. Tem como base as memórias do próprio Solomon Northup, que foi raptado e vendido como escravo em meados do século XIX. "12 Anos Escravo" recebeu sete nomeações para os Globos de Ouro. O elenco inclui ainda Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch, Brad Pitt, Paul Giamatti, Paul Dano e Lupita Nyong'o.

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Ficha Técnica

Título original: 12 Years a Slave (EUA / Grã-Bretanha, 2013, 134 min.)
Realização: Steve McQueen
Interpretação: Chiwetel Ejiofor, Michael K. Williams, Michael Fassbender, Brad Pitt
Produção: Brad Pitt, Dede Gardner, Jeremy Kleiner, Bill Pohlad, Steve McQueen, Arnon Milchan, Anthony Katagas
Argumento: John Ridley
Fotografia: Sean Bobbitt
Montagem: Joe Walker
Musica: Hans Zimmer
Distribuição: Zon Lusomundo
Estreia: 2 de Janeiro de 2014
Classificação: M/16

Críticas

Steve McQueen, cineasta do renascimento realista
João Lopes, Cinemax

Através da odisseia trágica de um homem livre que é feito escravo, Steve McQueen evoca a América de meados do séc. XIX e, acima de tudo, relança o modelo do filme histórico. Chiweter Ejiofor e Michael Fassbender têm interpretações fora de série.

Perante a estreia de "12 Anos Escravo", do inglês Steve McQueen, é talvez inevitável lembrar que, há cerca de um ano, descobríamos "Lincoln", de Steven Spielberg, outro filme admirável tendo por pano de fundo a escravatura. Enquanto "Lincoln" partia da reformulação da lei (isto é, do poder da palavra escrita como elemento de libertação dos escravos), "12 Anos Escravo" aborda uma conjuntura paradoxal e contraditória: em 1841, em Nova Iorque e Washington, Solomon Northub era um homem livre; ao ser raptado e levado para o Sul, passa a ser um escravo.

Porventura com alguma surpresa, McQueen, autor desses filmes admiráveis que (também) são "Fome" (2008) e " Vergonha" (2011), opta em "12 Anos Escravo" por um registo que, até certo ponto, se pode definir como eminentemente clássico. Dito de outro modo: este é um herdeiro muito directo da tradição do filme histórico, colocando em cena as relações entre a lei e a ordem, as tensões entre o individual e o colectivo.

Com uma componente subtil, obviamente determinante em toda a dramaturgia de "12 Anos Escravo": não se trata de modo algum de cumprir a tarefa mais ou menos meritória de "denunciar" o estado das coisas na América de meados do séc. XIX (antes de Abraham Lincoln, precisamente, ter ilegalizado a escravatura); este é, sobretudo, um retrato do aparato de ideias e valores que ainda tentavam legitimar a relação senhor/escravo.

Daí o papel essencial da personagem de Edwin Epps (Michael Fassbender), o chefe da plantação que compra Solomon (Chiwetel Ejiofor). Na verdade, enquanto proprietário que lida com os seus escravos como meras ferramentas de trabalho, Epps é também aquele que alimenta uma certa noção de transcendência, com raízes religiosas, para tentar legitimar a brutal repressão que exerce sobre os homens de raça negra que laboram na sua plantação.

Poderemos, talvez, definir o trabalho de McQueen como a arte de mostrar o modo como as ideias mais violentas se transfiguram em factos concretos — ou como os factos são a continuação das ideias nos lugares mais banais, aparentemente mais neutros, do quotidano. Tendo em conta a evolução específica do cinema (americano e europeu) em anos recentes, diremos também que "12 Anos Escravo" é mais um notável exemplo de todo um renascimento realista que tem sabido reagir contra a banal instrumentalização tecnológica dos filmes.

No plano das profecias mais benignas, não será arriscado supor que Ejiofor e Fassbender estarão na linha da frente para os Oscars, respectivamente, de melhor actor e melhor actor secundário. E que, aconteça o acontecer, "12 Anos Escravo" é um objecto que pode (e, a meu ver, deve) marcar algumas das principais linhas de reflexão sobre o cinema ao longo do ano que agora começa.

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