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PROGRAMAÇÃO: JUNHO 2014
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão
Sinopse
Há já vários anos que a actriz Robin Wright está afastada das luzes da ribalta. Por esse
motivo, recebe uma proposta de um importante estúdio de Hollywood para que venda a sua
identidade cinematográfica. A ideia é que, em troca de uma avultada quantia em dinheiro, a sua
imagem possa ser digitalizada e usada sem quaisquer limitações. Esse contrato, válido por 20
anos, inclui ainda mais uma cláusula: a sua identidade virtual não envelhecerá. Vinte anos após o
acordo, o mundo já não é o mesmo, mas Robin também não...
Estreado em Maio de 2013 no Festival de Cinema de Cannes, um filme de animação e "live action" que conta com o argumento e realização do israelita Ari Folman ("A Valsa com Bashir") e com Robin Wright (a interpretar-se a si mesma), Paul Giamatti, Harvey Keitel e Jon Hamm nos principais papéis.
Ficha Técnica
Título original: The Congress (Bélgica/França/Luxemburgo/Israel/Polónia/Alemanha, 2013, 122 min.)
Realização e Argumento: Ari Folman
Interpretação: Robin Wright, Harvey Keitel, Jon Hamm, Paul Giamatti
Música: Max Richter
Montagem: Nili Feller
Fotografia: Michal Englert
Produção: Ari Folman, Reinhard Brundig e Robin Wright
Distribuição: Midas Filmes
Estreia: 13 de Março de 2014
Classificação: M/16
Críticas
A pré-história da Matrix
Jorge Mourinha, Público de 13 de Março de 2014
Depois de Valsa com Bashir, Ari Folman regressa com um novo OVNI, inclassificável e desorientador, ancorado por uma interpretação notável de Robin Wright.
Pela sua própria natureza, Valsa com Bashir (2008) era um objecto “fora”, um OVNI - um “documentário animado” onde o israelita Ari Folman expiava, de modo catártico, a sua experiência no exército judeu durante os massacres de Sabra e Chatila. Mas, mesmo OVNI, ainda se conformava a uma narrativa mais ou menos tradicional e estruturada. O Congresso, o regresso de Folman à longa-metragem cinco anos depois, num registo completamente diferente, estica as fronteiras do que é ser um OVNI - ou devolve-as ao que elas eram há 40 anos, paredes-meias com o radicalismo contra-cultural do psicadelismo dos anos 1960 e 1970. Mas, por trás dessas alucinações lisérgicas, entre o Submarino Amarelo que George Duning criou para os Beatles em 1968 e o Homem Duplo de Philip K. Dick que Richard Linklater animou aqui há uns anos, reside uma meditação sobre o mundo moderno e uma profecia desconfortável sobre um possível futuro alienado.
Partindo de um romance do polaco Stanislaw Lem (autor de Solaris) que imaginava uma “realidade virtual” criada quimicamente através de drogas, Folman constrói uma fábula triste sobre uma “sociedade do espectáculo” regida com mão de ferro pelo complexo cultural-industrial, onde cada um é o actor no seu próprio filme, o herói da sua própria aventura, mesmo que por trás dessa aparência o mundo seja uma miséria. O truque de Folman reside em começar O Congresso numa imagem real solar e perfeitamente definida e de, a meio caminho, o fazer derrapar para uma animação onírica, surrealista, primitiva. A ligação é feita através de uma actriz, Robin Wright, que, praticamente forçada a ceder a sua imagem para um avatar digital manipulável ao bel-prazer dos estúdios, compreende tarde demais que a sua rendição à tecnologia é o primeiro passo para a queda da sociedade num paraíso artificial que obscurece a total ausência de futuro.
Interpretando uma versão alternativa de si mesma, Robin Wright, numa performance assombrosa de sensibilidade, torna-se na consciência e na última réstia de humanidade de um mundo em queda livre. É a sua entrega absoluta que dá a O Congresso a alma de que o filme necessita para não tombar no puro delírio psicadélico, a âncora de um objecto que faz questão de largar amarras para longe de todas as lógicas convencionais. No processo, torna-se numa trip que, à imagem da ficção científica tradicional, estimula os sentidos tanto como o intelecto, revela lentamente as múltiplas camadas de uma realidade em constante flutuação. É um filme literalmente inclassificável, que esconde por trás da sua aparência de midnight movie no limite do delírio um olhar quase de pesadelo sobre o futuro radioso. O Congresso é a pré-história da Matrix dos irmãos Wachowski, o relato do momento antes da abdicação da humanidade. Deste filme não se sai ileso.



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