CINECLUBE DE JOANE

Setembro 2023
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Aleksandr Dovzhenko
2 SET 22h00
de Houman Seyyedi
7 SET 21h45
de Marco Martins
14 SET 21h45
de Laura Poitras
21 SET 21h45
de Tod Browning - filme-concerto pelos Tresor&Bosxh
28 SET 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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14 21h45

GREAT YARMOUTH: PROVISIONAL FIGURES Marco Martins

Outubro de 2019. A poucos meses da concretização final do Brexit, um grupo de imigrantes portugueses encontra-se em Great Yarmouth, condado de Norfolk (Reino Unido). Pobres e com poucas perspectivas de futuro, eles esperam ter encontrado a oportunidade para mudar as suas vidas. Tânia, também portuguesa, vive ali há já vários anos e é casada com um inglês, dono de uns hotéis de qualidade duvidosa. Dada a sua experiência, serve como intermediária entre os seus conterrâneos e os donos das fábricas de perus da zona. Mas o seu grande sonho é conseguir a nacionalidade britânica e transformar os velhos hotéis do marido num centro para idosos. Estreado no Festival de Cinema de San Sebastian, um drama sobre as dificuldades com que se deparam alguns imigrantes portugueses em Inglaterra. A história é uma espécie de adaptação/continuação da peça com o mesmo nome também da autoria de Marco Martins.

Título Original: Great Yarmouth: Provisional Figures
Realização: Marco Martins
Interpretação: Beatriz Batarda, Nuno Lopes, Romeu Runa, Kris Hitchen, Rita Cabaço
Argumento: Ricardo Adolfo, Marco Martins
Produção: Yohann Cornu, François d'Artemare,
Fotografia: João Ribeiro
Montagem: Mariana Gaivão, Karen Harley, Marco Martins
Estreia: 16 de Março de 2023
Distribuição: NOS Audiovisuais
Classificação: M/14
Elogio do realismo O novo filme de Marco Martins, Great Yarmouth - Provisional Figures, é o retrato íntimo de um grupo de trabalhadores imigrantes portugueses no Reino Unido, centrado numa brilhantíssima composição de Beatriz Batarda. João Lopes, DN Numa altura em que muitos espectadores apenas respondem ao ruído dos eventos mediáticos (ou ruidosamente mediatizados), eis que chega às salas Great Yarmouth - Provisional Figures, um filme magnífico que, ponto por ponto, se demarca de qualquer modelo consagrado pelo marketing. Na sua origem está um projeto teatral que começou por ser concretizado em Inglaterra, em 2018, pelo próprio realizador, Marco Martins, autor de títulos como Alice (2005), São Jorge (2016) ou a série televisiva Sara (2018).
No palco, tratava-se de construir um espetáculo que refletisse as condições de vida dos imigrantes ilegais portugueses na cidade costeira de Great Yarmouth, na região de Norfolk. Escusado será dizer que o filme vive da sua própria identidade, não sendo necessário conhecer a sua "antecipação" teatral. Importante, isso sim, é a expressão que lhe serve de subtítulo: como se esclarece logo na abertura, "provisional figures" é uma classificação das estatísticas oficiais do Reino Unido para designar os trabalhadores imigrantes "com uma situação indefinida ou provisória".
Em termos esquemáticos, este é o retrato de um grupo desses trabalhadores, polarizado por uma personagem "maior que a vida": Tânia, uma mulher que serve de intermediária entre os portugueses (que a tratam como "Mãe") e a empresa proprietária de um matadouro de aves, ao mesmo tempo que alimenta a ilusão de recuperar o hotel degradado em que aloja os trabalhadores.
A caracterização do filme como um panfleto capaz de dar conta de uma conjuntura de cruel exploração dos seres humanos tenderá a ignorar aquilo que faz de Great Yarmouth - Provisional Figures um objeto de cinema tão invulgar quanto fascinante. De facto, a "denúncia" como lugar- comum narrativo está disseminada nas nossas sociedades como uma espécie de obrigação moral de qualquer gesto artístico. Resultado prático: monumentais mediocridades são tratadas como se fossem bíblias do "politicamente correto" - e são mesmo, há que reconhecê-lo...
De modo bem diferente, o que aqui mais conta é a obstinação de uma "mise e scène" que, ao distanciar-se de clichés ideológicos, não desiste de expor o caráter irredutível, visceralmente trágico, de cada uma das suas personagens. No papel de Tânia, Beatriz Batarda é o centro do filme, tanto em termos visuais (dir-se-ia que a câmara é sua espectadora e companheira), como no plano dramático - e convenhamos que não é todos os dias que, na produção portuguesa ou de qualquer outra origem, encontramos uma atriz capaz de se expor neste desnudamento emocional, sem nunca ceder à tentação de convocar um qualquer estereótipo feminino ou feminista.
Nuno Lopes, Kris Hitchen, Romeu Runa e Rita Cabaço são alguns outros nomes do elenco, garantindo a Great Yarmouth - Provisional Figures a vibração perturbante de um realismo alheio a qualquer naturalismo televisivo. Daí que sejamos levados a evocar a mui nobre herança do realismo britânico, aqui celebrado, refeito e repensado para as agruras do nosso presente.