Filmes-Concerto

Há alguns anos que o Cineclube de Joane vem apresentando, pelo menos uma vez por ano, um filme (mudo) com banda sonora ao vivo. Parece-nos uma forma sagaz de mostrar filmes importantes, um regresso às formas primitivas e (falsamente) arcaicas. A introdução de uma banda sonora ao vivo torna, para um número razoável de espectadores, o visionamento dos filmes do período mudo mais apetecível, retirando-lhe a carga que os anos acrescentara às obras. Estas apresentações, que se iniciaram com Nosferatu de F. W. Murnau, têm sido, também, uma espécie de presente com que brindamos os nossos associados e espectadores assíduos das nossas sessões, pois têm sido programadas sem custos para os associados (como é usual nas sessões regulares) e a preços baixos para os restantes espectadores. Portanto, foi com uma grande efervescência que partimos para a encomenda da nossa primeira banda sonora de uma longa-metragem: Fausto, a última obra do período alemão de Murnau (em 2009, aquando da mostra On The Trek, os Biarooz tinham concebido, a nosso pedido, uma trilha para a curta Viagem à Lua do ilusionista Meliès). A escolha do filme não foi, de todo, inocente: Murnau é um dos nossos autores favoritos, um daqueles que perseguimos exaustivamente, e só sossegaremos quando exibirmos todos os seus filmes. Fausto, uma das suas obras maiores, uma das que melhor sintetiza o apelo do cineasta pela dicotomia “luz e sombra”, surgiu-nos de forma espontânea para este empreendimento. Quanto à banda, os La La La Ressonance, tinham todos os condimentos para a nossa preferência: um som singular e cinemático, entre o jazz contemporâneo e o pós-rock, numa carreira já alicerçada em dois excelentes álbuns e com um antecedente que sempre nos fascinou: The Astonishing Urbana Fall (esta banda tinha exactamente os mesmos membros que os La La La Ressonance).